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Encontro da Região Sul do Serviço Pastoral dos Migrantes

Nos dias 10, 11 e 12 de março de 2020, o SPM-SC sediou o encontro da Região Sul do Serviço Pastoral dos Migrantes, na Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus em Florianópolis.

Com o objetivo de discutir os contextos de acolhimento à população migrante em cada estado da região sul, este encontro, que costuma ocorrer a cada dois anos, visa o planejamento e aprimoramento das ações de auxílio e integração de migrantes no sul do Brasil.


Representantes dos três estados que atuam na Pastoral do Migrante e instituições parceiras das suas localidades estavam presentes. Sendo elas Florianópolis, Xanxerê, Chapecó, Blumenau, Porto Alegre, Curitiba e Londrina. Além destes, o SPM Nacional foi representado pelo Coordenador Executivo Roberto Saraiva, que em celebração aos 35 anos do SPM, fez uma apresentação histórica da instituição.

Compartilhamento de ações

Cada agente pastoral teve a oportunidade de compartilhar um panorama das suas ações mais recentes.


Para Santa Catarina, representantes da região Oeste destacaram como desafio a problemática dos agendamentos na Polícia Federal, tendo em vista os prazos previstos por lei para regularização dos documentos. Além disso, a falta de articulação com algumas prefeituras que não oferecem nenhum suporte e negam a possibilidade de uma casa de acolhida para migrantes também foi evidenciado no momento. Outra questão discutida foi a dificuldade de validação de diplomas universitários. Por outro lado, colocou-se como destaque positivo a presença de imigrantes na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), inclusive com pessoas já formadas, e como a instituição vem se tornando um incentivo para os migrantes irem para esta região. O oferecimento de aulas de português nos CEJAS em cidades do oeste e a possibilidade de migrantes serem funcionários públicos em Chapecó também foram apontados como conquistas.


Na questão cultural, foi discutido como ainda em Santa Catarina se reforça a intenção para culturas brancas e menos para outras, a ponto de gerar questionamentos quando se propõe a fazer uma festa da cultura haitiana, por exemplo. E, por isso, a importância da construção de espaços com trocas culturais, a exemplo de torneios de futebol, e de estarmos sensíveis às particularidades dos diferentes contextos migratórios.


Sobre Florianópolis, foi apresentado o projeto da Casa do Migrante - Scalabrini, que está sob a direção de Padre Nelson Francisco Mariano, CS. A Casa, que já recebeu 40 pessoas vindas da Venezuela, tem como objetivo auxiliar na inserção laboral e educacional dentro do estado de Santa Catarina. Sendo a inserção no mercado de trabalho ainda o maior desafio. Além de encaminhamentos para regularização de documentos, a equipe de colaboradores oferece, semanalmente, aulas de português e atendimento psicossocial com psicólogos voluntários.


No âmbito da Pastoral do Migrante, coordenada pelo Padre Marcos Bubniak, CS, foi compartilhado um panorama das aulas de português, que desde outubro de 2018 a fevereiro de 2020 já contemplaram mais de 230 pessoas vindas de 10 países. Em sua maioria vindos do Haiti e da Venezuela. Outras ações desenvolvidas como aulas de violão e Português no Verão para crianças e adolescentes foram mencionadas.


Já no contexto do Paraná, destacou-se que Curitiba é a terceira capital que mais recebe imigrantes venezuelanos. A boa relação das universidades e os auxílios que oferecem no momento da chegada foram destacadas como ações positivas. Em especial, foi feito um alerta para a situação dos imigrantes encarcerados e a importância de articulação com a Pastoral Carcerária nesse estado.


O projeto “Acolhendo vidas, reconstruindo sonhos”, que contempla o funcionamento de uma casa de acolhida em Curitiba, assim como em Florianópolis e outras três cidades nos estados do Ceará e da Paraíba, também foi apresentado por seus representantes locais.


De Londrina, Mayara A. Araújo Silva, apresentou as ações de acolhida às crianças migrantes, distribuição de roupas e comidas através de bazares, batizados, abertura de seis turmas de português e celebração para apresentações de diferentes países e suas culturas.


Pelo Rio Grande do Sul foram apresentadas ações desenvolvidas pelo CIBAI (Centro Ítalo-Brasileiro de Assistência e Instruções as Migrações) representando por Padre James-son, articulador regional da Pastoral do Migrante nesse estado. Em 2019 a instituição contabilizou mais de 19 mil atendimentos, sobretudo para pessoas vindas do Haiti, Uruguai, Senegal, Argentina, Peru e Venezuela. O oferecimento de cursos profissionalizantes através de voluntários, como corte e costura, garçonete e etc, assim como a realização de seminários dentro do CIBAI em parceria com outras instituições foram destacados.


Atualmente o CIBAI conta com um número alto de voluntários, 102, e que auxiliam em todos os tipos de procedimentos. Alguns desafios como a falta de recursos financeiros e parcerias com empresas, a inadequação dos espaços físicos e pouca conscientização da comunidade sobre a situação dos migrantes foram alertados. A psicóloga voluntária do CIBAI, Daniele Cristani, também falou sobre a violência contra imigrantes, as dificuldades de inserção e a necessidade de descentralizar os serviços da capital.


Ainda sobre o estado do Rio Grande do Sul, ações do Serviço de Acolhida e Orientação ao Migrante, localizado estrategicamente na rodoviária de Porto Alegre, foram apresentadas pela Irmã Egídia Josefina Muraro. Neste espaço são realizados encaminhamentos como auxílio na documentação, área da saúde e ajuda com passagem de retorno. São também oferecidas oficinas em grupo contra violência doméstica, grupo de idosos e esportes. Panfletagem de conscientização e celebrações eucarísticas também são realizadas. Segundo Ir. Egídia, mais de 600 venezuelanos já foram estabelecidos na região.


Articulações

O encontro também contou com a presença do professor Dr. Carlos Alberto Marques, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que propôs uma discussão sobre a conjuntura política e econômica do Brasil.


Além dessa fala, esteve presente também o procurador do trabalho Acir Alfredo Hack (MPT), vinculado à coordenadoria de combate ao trabalho escravo em Santa Catarina. O debate ocorreu acerca das ações frente às recorrentes violações dos direitos trabalhistas das pessoas migrantes, bem como as inquietações com as mudanças trabalhistas que o país vem passando, como a implementação da Carteira Digital e as dificuldades de gerenciar as chamadas TACs - termos de ajustamento de conduta.


Celebrações

Além das rodas de conversa, foi realizada uma noite cultural com a presença do artista Kara Modou, do Senegal, tocando instrumentos de percussão. Assim como uma manhã de celebração com a presença especial de Dom Wilson Tadeu Jönck.


Voluntariado

Tendo em vista que o voluntariado é um dos pilares dos trabalhos desenvolvidos nas pastorais, foi também propiciado um momento de encontro com voluntários já atuantes e interessados, ministrado por Roberto Saraiva. Foi um momento rico de partilha e conexão mais humana com esta missão, onde os participantes puderem compartilhar suas histórias de vida e as motivações que os levam a se colocarem à disposição para este trabalho.


Rostos, rotas, raízes e respostas

Nos três dias de evento um dos principais pontos de discussão foi a importância de vermos as pessoas migrantes pra além dos números, disseminando assim o método dos “4Rs”, de Padre Alfredo J. Gonçalves, CS, para uma leitura popular das migrações. Para isso, é imprescindível compreendermos o fenômeno migratório lembrando que pessoas migrantes têm rostos e histórias, traçam diferentes rotas e enfrentam diversas barreiras, possuem raízes que indicam motivações dos deslocamentos e precisam de respostas por parte de diferentes organismos.


O evento foi, então, finalizado com uma visita à Casa do Migrante - Scalabrini. Um ambiente que nos inspira e motiva a seguir nos articulando, aprimorando e humanizando cada vez mais nossas ações diárias.


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